terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Meu medo de você.



Tô com aquele medo, aquela coisa que martela me dizendo pra não cair nessa de novo. Tem alguma coisa aqui dentro piscando, um alerta de que você vai me fazer sentir algo além do frio na barriga e eu te chamo de montanha-russa sem você saber. Se você pudesse ler os meus pensamentos enquanto vira à esquerda, perceberia que o meu sinal ficou fechado por tanto tempo que é difícil deixar o vermelho dar lugar ao verde. Se você pudesse me ler agora, diria que eu tô congelando (mesmo com sol e calor lá fora).

Tô com aquela sensação de barco sem remos, sabe? Sabe tanto que ontem me falou que era pra eu confiar em você e nessas coisas todas que você fala, mesmo que nenhuma delas fosse bonita. Você também falou isso na semana passada e uns meses atrás quando eu te vi pela primeira vez. Como você me pede pra confiar em olhos de caçador se eu tô acostumada a esboçar olheiras no papel? Meu uso do carvão vai além do uso artístico e eu me pinto com ele, pinto as bochechas, sou prenúncio da guerra. Bochechas pintadas e escondo o rubor, duas faixas em cada lado e tô pronta. Tô pronta pra me defender e lutar contigo até me dar por vencida.

Travo uma batalha completamente sem sentido porque o inimigo não é você. O combate tinha que ser aqui dentro, com mil soldados mortos por minuto e sem decisão, já que eu mudo de ideia de dois em dois minutos. Se me deixo vencer e você dá xeque-mate, que garantia eu vou ter de que esse sentimento todo declamado não passava de estratégia? Se eu me empurro mais pra dentro, cavo uma trincheira e me escondo até você passar, talvez eu perca você pra sempre. Pra sempre assusta e badala doze vezes na minha cabeça antes do trem passar na frente da gente. Por que toda vez que você freia, você me olha? Eu não quero te devorar. Antes quisesse, porque assim eu me defendo sem precisar me entender.

Não sei se você tá vendo ou se vai chegar a ver, mas eu tenho um medo estranho de deixar que me vejam. Medo desses que me atrapalham pra cacete, mas não tem nada que eu possa fazer pra mudar isso. É meu efeitovideo game: preciso passar de fase, uma a uma, pra ficar mais forte e chegar no chefão. E já foram tantas fases, tantos game overs, tanta preguiça e falta de vontade de recomeçar que olha, às vezes, eu prefiro me largar num sofá com pipoca a ter que recomeçar. É exaustivo ter que programar tudo, encontrar um rosto novo e contar, me construir, deixar que me descubram de novo e de novo e mais uma vez pra depois acabar em nada. É o jogo da sociabilidade amorosa, certo? Vira à direita e mais duas à frente que você me encontra perdida de novo. Fico me perguntando se você me pararia e me seguraria pelos ombros, pra me sacolejar e me dizer o que eu preciso ouvir. Que eu não preciso de carinho – agora -, só de alguém (você) que me diga que já chega.

Diz pra mim que já chega de travar essas batalhas sozinha porque cansa. Cansa ter que convocar exército e botar o povo na rua pra fazer revolução amorosa. Cansa jogar com um console e ver mais um jogo indo pro buraco por falta de companhia compartilhada. Cansa dizer quem eu sou dezenas de vezes pra alguém que mal vai lembrar meu nome amanhã. Então vira a esquina e me deixa em casa. Me deixa na porta e insiste em entrar comigo. Insiste em não me deixar sozinha essa noite e jogar comigo, sem questionar meus vícios, pra abrandar essa guerra que tá na minha cabeça. Não me deixa cavar trincheira nenhuma dessa vez. Para na minha porta e desce do carro, do tanque de guerra, desse movimento que todo mundo faz de me deixar aqui e não voltar. Mostra pra mim que você decorou o caminho todo e que tem razão: eu não preciso mais brigar comigo pra deixar alguém entrar.

Daniel Bovolento.

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