segunda-feira, 20 de junho de 2016

Que é para ver se eu te esqueço.


Já mudei o corte de cabelo, reformei meu guarda-roupa, conheci dois lugares numa viagem não programada e me aventurei em algumas camas desconhecidas. Que é pra ver se tiro seu gosto da minha boca, que é pra ver se tiro o seu reflexo do meu espelho, que é pra ver se tiro do meu corpo todas as marcas que você me impregnou.

Dou sorrisos por aí que convencem a todo mundo. E sei que estão todos dizendo como é que eu mudei, como é que amadureci, como é que ter terminado com você me fez tão bem. E agradeço a cada um desses elogios, e penso que tudo isso não faz o menor sentido. Porque sua falta ainda me dói. Porque as noites ainda são longas. Porque tenho insônia quase todos os dias e ainda morro de vontade de ligar pra você.

Como é que você tá? Onde é que você tá indo? Por que você não quer me levar?

Mas já rasguei nossas fotos, doei seus presentes para brechós e bazar. Já me libertei de todas as suas lembranças físicas para perceber que nunca precisei de nada disso para ainda pensar em você. Penso em ti quase todos os dias, quando tenho uma novidade para contar, quando vejo a caixa de mensagem vazia, quando o dia foi tão ruim que eu só queria me aninhar no seu peito e me esquecer em você.

Já parei de me embebedar, de sentir solidão nos dias frios, de chorar de angústia por causa de nossos silêncios. Já parei de me perguntar o que é que fiz de errado para você ter me deixado. Já aceitei que a culpa não é minha. Que a culpa não foi sua. Que a vida é mesmo assim, juntando, separando, empurrando as pessoas para frente sem se importar com o que elas deixam para trás. Eu mesma já esqueci tanta coisa no meu passado. Só queria conseguir deixar você lá também.

Já não sou a mesma que você abandonou, naquela terça-feira à noite, batendo a porta sem olhar para trás. Já refiz meus cacos, me colei inteira, me joguei em outras aventuras só para ver se estava pronta para me quebrar outra vez. Mas, desde que você se foi, nunca mais me machuquei. Estou dura como uma rocha. Não sinto nada, e ainda assim amo você.

Todo dia eu enfrento uma batalha nova, coloco um sorriso no rosto, empino o queixo e vou à luta. Conheço vários caras, troco uns telefones, saio nuns encontros meio fajutos. Que é pra ver se eu te esqueço. Que é pra ver se no próximo sorriso eu conheço alguém que vai te apagar de mim. E toda noite eu volto pra casa, meio suja, meio sozinha, meio desesperada. Coloco uma música lenta, pego uma taça de vinho, sento naquele sofá que guarda tantas de nossas histórias, e me abraço em silêncio. Que é pra ver se você volta.

Mas você nunca aparece. E eu vou seguindo em frente, fingindo pra todo mundo que te superei, quando na verdade só estou tentando achar o caminho pra chegar até sua casa, ou pra ver se, por acaso ou destino, você vem.

Fernanda campos.

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